Recentemente, eu escutava um programa de rádio voltado à reflexão religiosa quando um ouvinte perguntou: Como sabemos que Deus existe? – uma pergunta simples, mas profundamente decisiva.
O apresentador respondeu dizendo que o sabemos pela fé. Uma resposta válida, embora aquilo que realmente precisamos compreender é como sabemos disso por meio da fé.
Antes de tudo, o que significa saber algo?
Se acreditamos que conhecer implica imaginar, compreender ou conceber a existência de algo, então, deste lado da eternidade, jamais conheceremos Deus. Por quê?
Porque Deus é inefável. Esta é a primeira verdade inegociável que precisamos acolher sobre Ele: Deus está além de tudo o que podemos imaginar. Deus é infinito, e o infinito jamais pode ser contido em uma imagem, conceito ou definição.
Tente imaginar o maior número possível – inevitavelmente, você sempre poderá acrescentar mais um. Assim também é a realidade divina: jamais totalmente capturada, jamais plenamente imaginada. E, no entanto… pode ser conhecida.
O conhecimento não reside apenas na mente, como um conceito que conseguimos explicar ou expressar com clareza. Há realidades que tocamos não com a cabeça, mas com o coração e as entranhas.
É aquele saber silencioso que se manifesta como impulso moral, chamado interior, obrigação sagrada, voz suave que orienta nossos passos para a fidelidade.
É nesse lugar profundo que conhecemos Deus, além das imagens, além dos conceitos, além até mesmo das emoções.
As verdades reveladas pelas Escrituras, pela Tradição e pelo testemunho luminoso de mártires e santos não criam esse conhecimento – apenas põem em palavras algo que nossa alma já pressente “como num espelho, de forma obscura”, como diriam os místicos (1Cor 13,12).
Podemos Provar que Deus Existe?
Dediquei minha tese de doutorado exatamente a essa questão. Nela, analisei as provas clássicas da existência de Deus, especialmente como articuladas pela filosofia ocidental. Tomás de Aquino, por exemplo, apresentou cinco argumentos distintos.
Um deles diz assim:
Imagine que você caminha por um caminho e encontra uma pedra. Você se pergunta como ela chegou ali, mas pode simplesmente supor que sempre esteve naquele lugar.
Agora imagine que, nesse mesmo caminho, você encontra um relógio funcionando. Poderia dizer que ele sempre esteve ali? Não, pois ele possui um design preciso, inteligência incorporada, e o fato de marcar o tempo indica que teve um início.
A partir dessa lógica, Aquino nos convida a olhar para nós mesmos e para o universo:
A criação carrega um design extraordinário e, como mostra a física moderna, não é eterna.
Logo, algo – ou Alguém – dotado de inteligência deu início a tudo. Mas quem?
Houve um célebre debate na rádio BBC entre o filósofo cristão Frederick Copleston e o ateu Bertrand Russell. Ao final, ambos concordaram em uma coisa: “Se o mundo faz sentido, então Deus existe.”. Russell, porém, concluiu: o mundo não faz sentido.
Muitos ateus refletidos chegam a essa mesma conclusão. Mas, como Albert Camus, acabam diante de outra questão inevitável: como o mundo pode não ter sentido?
Se Deus não existe, em que fundamento apoiamos a moralidade? Em que base afirmamos que ajudar uma criança é melhor que feri-la? De onde vem o bem?
O Verdadeiro Conhecimento de Deus
Ao concluir minha tese, percebi que a existência de Deus não pode ser demonstrada por um silogismo, cálculo ou argumento puramente racional – embora estes possam oferecer sinais valiosos.
Deus não se encontra no final de uma fórmula.
Encontramo-O na experiência, dentro de um modo particular de viver.
Quando vivemos como as grandes tradições religiosas – especialmente o cristianismo – nos ensinam: compaixão, altruísmo, perdão, generosidade, paciência, longanimidade, fidelidade e gratidão, então não “provamos” Deus… nós O encontramos, participando de Sua própria vida.
Nesse ponto, ter ou não uma imagem imaginativa de Deus torna-se secundário.
Por que creio em Deus?
Não porque as provas de Aquino, Anselmo, Descartes, Leibniz ou Hartshorne me convençam plenamente. Elas são intelectualmente fascinantes, mas existencialmente limitadas.
Creio em Deus porque sinto Sua presença de modo visceral: como uma voz suave, um convite insistente, um imperativo moral que, quando acolhido, gera comunhão, amor, paz e propósito.
Esta é a verdadeira prova da existência de Deus.
Perguntas para Reflexão
- Em quais momentos de sua vida você percebeu esse “chamado interior” que aponta para algo maior do que você mesmo?
- Como a sua maneira de viver tem revelado – ou escondido – a presença de Deus no mundo?
- Quais experiências concretas lhe deram a sensação de que Deus não é apenas uma ideia, mas uma presença real?
- De que forma a fé ajuda você a encontrar sentido em meio às incertezas e desafios do tempo presente?
Texto: RON ROLHEISER
Fonte: Ciudad Redonda