O ADVENTO: TEMPO DE ESPERA E ESPERANÇA

DESTAQUE

O Advento é o tempo litúrgico que prepara os fiéis para o Natal do Senhor. Mais do que uma mera recordação histórica, é um período de espera vigilante e alegre esperança, que convida à conversão do coração para acolher Deus que vem: que veio na carne, que vem diariamente na graça e que virá glorioso no fim dos tempos.

A seguir, temos um breve comentário para cada um dos quatro domingos que compõem este tempo, desvendando a sua progressão espiritual única.

Primeiro Domingo do Advento (Ano A)

O Chamado à Vigilância Ativa

Este domingo inaugura o Ano Litúrgico, marcando um início não apenas cronológico, mas espiritual. O convite central é a vigilância ativa, um tema que unifica as leituras.

  1. A Urgência do “Agora” (Evangelho – Mt 24:37-44): A liturgia não fala de um Natal passado, mas da vinda do Senhor hoje e no fim dos tempos. A exortação “Vigiai!” é dramática: o risco é a distração com o trivial, o “adormecimento” espiritual que nos faz perder o encontro com o Libertador.
  2. A Meta: A Promessa de Deus (1ª Leitura – Is 2:1-5): A vigilância tem um objetivo. Isaías revela que não esperamos uma utopia vaga, mas a concretização da promessa divina da paz universal. O Advento prepara-nos para reconhecer em Jesus o cumprimento desta profecia.
  3. O Estilo de Vida do Esperado (2ª Leitura – Rm 13:11-14): Paulo traduz a vigilância em ação: “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. É um chamado a uma conversão ética, a trocar as “obras das trevas” (comodismo, indiferença) pelas “armas da luz” (justiça, amor, misericórdia).

Em síntese, o primeiro domingo do Advento é um despertador espiritual. Convida-nos a sair da letargia para uma espera ativa, trabalhando na construção do Reino, pois Aquele que vem é a própria Luz que dissipa as trevas.

Segundo Domingo do Advento (Ano A)

O Chamado à Conversão para o Reino

Este domingo avança na jornada do Advento, deslocando o foco da vigilância para a transformação interior necessária para acolher o Reino que se aproxima. O tema unificador é a conversão como preparação ativa.

  1. O Precursor do Reino (Evangelho – Mt 3:1-12): João Batista é a voz que clama, ligando a promessa profética à sua iminente concretização. O seu anúncio “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” é o cerne da liturgia. A conversão (“metanoia”) é apresentada como uma mudança radical de mente e coração, um “endireitar” os caminhos para a vinda do Messias, exigindo frutos concretos de justiça.
  2. A Visão do Reino (1ª Leitura – Is 11:1-10): A profecia de Isaías pinta o quadro do mundo novo que o Messias trará. Não se trata de uma paz qualquer, mas de uma harmonia cósmica e universal, onde a justiça é o fundamento (“Não julgará pelas aparências”). A imagem do lobo e do cordeiro juntos revela a profundidade da transformação que Cristo vem operar, restaurando a Criação à sua ordem original.
  3. A Vida no Reino (2ª Leitura – Rm 15:4-9): Paulo aplica esta visão à vida da comunidade. Os cristãos, como sinais visíveis desse Reino, são chamados a viver a harmonia profética na prática: “Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu”. A unidade e o apoio mútuo tornam-se o testemunho concreto do mundo novo inaugurado por Jesus.

Em síntese, o segundo domingo do Advento é um apelo urgente à conversão. Ele convida-nos a preparar o coração, não só para acolher o Menino de Belém, mas para nos integrarmos ativamente no seu Reino de justiça e paz, vivendo já a harmonia que Ele veio trazer.

Terceiro Domingo do Advento (Ano A)

A Alegria da Presença que Liberta

Conhecido como “Gaudete”, este domingo marca uma pausa jubilosa no Advento. O tema central é a alegria provocada pela ação libertadora de Deus, que já está presente e atua no mundo.

  1. A Evidência do Reino (Evangelho – Mt 11:2-11): Jesus responde aos discípulos de João Batista enumerando as suas obras: os cegos veem, os coxos andam, e aos pobres anuncia-se a Boa Nova. A prova da chegada do Messias não é uma doutrina, mas fatos concretos de libertação e restauração da vida. A alegria brota do testemunho direto da salvação em ação.
  2. A Fonte da Alegria (1ª Leitura – Is 35:1-6a, 10): O profeta descreve a transformação cósmica que acompanha a salvação de Deus: o deserto floresce e são abertos os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos. Esta visão fundamenta a alegria do exílio que termina. A alegria cristã não é um sentimento vago, mas a resposta à intervenção fiel de Deus que cumpre a sua promessa de libertar o seu povo.
  3. A Atitude do Alegre (2ª Leitura – Tg 5:7-10): Tiago convida à paciência e à firmeza de coração enquanto se aguarda a vinda definitiva do Senhor. A verdadeira alegria esperançosa não é passiva, mas traduz-se numa constância perseverante no bem, confiando na justiça iminente de Deus, que virá em defesa dos oprimidos.

Em síntese, o terceiro domingo do Advento é um convite à alegria fundamentada. A “alegria Gaudete” nasce da certeza de que, em Jesus, Deus já entrou na nossa história para nos libertar, e da esperança inquebrantável de que Ele voltará para completar a sua obra de justiça.

Quarto Domingo do Advento (Ano A)

O Deus-Conosco que Se Revela

Este domingo conclui o Advento, deslocando o foco da preparação para o mistério da Encarnação. O tema unificador é a revelação de Jesus como o “Emanuel”, o Deus que vem habitar no meio do seu povo.

  1. O Nome do Salvador (Evangelho – Mt 1:18-24): A liturgia revela a identidade do Menino que vamos celebrar. Através do anjo, José é convidado a acolher o mistério: Maria concebeu “por virtude do Espírito Santo” e o filho se chamará “Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados”. Ele é o cumprimento da profecia: o “Emanuel”, “Deus connosco”. Acolhê-Lo, como José o fez, é a atitude fundamental.
  2. O Sinal da Promessa (1ª Leitura – Is 7:10-14): A profecia de Isaías fornece o fundamento bíblico para o mistério. Perante a ansiedade do rei Acaz, Deus oferece um sinal de esperança: “a virgem conceberá e dará à luz um filho, e por-lhe-á o nome de Emanuel”. Este menino é a garantia de que Deus está e estará sempre com o seu povo, mesmo nas horas mais sombrias.
  3. A Missão do Testemunha (2ª Leitura – Rm 1:1-7): Paulo apresenta-se como modelo de quem acolheu e se deixou transformar pelo Emanuel. Ele é “servo de Cristo Jesus, apóstolo por chamamento”, consagrado para anunciar o “Evangelho de Deus”. A sua vida, redefinida pelo encontro com Jesus, torna-se um testemunho vivo que convoca todos à fé.

Em síntese, o quarto domingo do Advento é uma contemplação do rosto de Deus que se revela em Jesus. Ele convida-nos a, como José, acolher com fé humilde o mistério do “Deus-connosco” e a, como Paulo, reconstruir a nossa vida em torno d’Ele, tornando-nos testemunhas da sua salvação para o mundo.