DILEXIT TE – Eu Te Amei 

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No último dia 4 de outubro, na comemoração do Poverello de Assis, São Francisco, o Papa Leão XIV assinou a Exortação Apostólica Dilexi te. É um texto profundamente evangélico que retoma o coração da missão da Igreja: o amor aos pobres. Inspirada na Encíclica Dilexit nos, do Papa Francisco, sobre o Coração de Jesus, a exortação dá continuidade à reflexão sobre o amor divino que se faz concreto na história _ especialmente no cuidado pelos últimos. 

O próprio Papa Leão explica que assumiu o projeto que Francisco deixara em preparação, oferecendo-o agora “no início do meu pontificado”, como herança espiritual e caminho de santificação para toda a Igreja.

O título Dilexi te — “Eu te amei (Ap 3,9) são palavras do Apocalipse dirigidas a uma comunidade frágil e desprezada, mas amada por Cristo. Assim também os pobres, os pequenos e os esquecidos continuam a ouvir do Senhor a mesma declaração: “Eu te amei”. O texto recorda que Jesus, o Messias pobre e servo, é o rosto visível desse amor que se inclina sobre a humanidade ferida.

O Papa mostra que a Igreja, ao longo dos séculos, sempre se ocupou dos pobres — não como um gesto assistencialista, mas como expressão da própria fé. Mais do que uma questão social, trata-se de uma relação que traduz o amor de Deus em comunhão concreta. Desde os tempos apostólicos, cuidar das necessidades foi manifestação da vida cristã: “Quem dá ao pobre empresta ao Senhor”. Os primeiros discípulos organizaram a partilha dos bens e instituíram o serviço dos diáconos para atender às viúvas e aos marginalizados. 

Nos séculos seguintes, os santos e doutores da Igreja reconheceram nos pobres um lugar privilegiado de encontro com Deus. São Lourenço chamou-os “os tesouros da Igreja”; São João Crisóstomo advertia: “Não adornes o altar de Cristo com ouro, se o abandonas faminto à porta”; e Santo Agostinho lembrava que dar esmola é “devolver o que pertence ao outro”.

A Dilexi te insiste que o amor aos pobres não é uma opção entre outras, mas uma exigência essencial da fé. “No coração de Deus ocupam lugar preferencial os pobres” — recorda o Papa, ecoando o Evangelho de Jesus: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). Esse amor preferencial não é ideológico nem excludente, mas revela o modo de agir de Deus, que se inclina sobre os pequenos para restaurar a justiça e a dignidade humana.

O texto denuncia as novas formas de pobreza e exclusão que marcam o mundo contemporâneo: desigualdades crescentes, indiferença diante da fome, marginalização das mulheres, exploração dos frágeis e uma cultura que “descarta” os que não produzem. O Papa, convida a Igreja a não se acomodar, mas a reavivar a compaixão.

A Exortação recorda ainda a longa tradição eclesial do serviço caritativo: o cuidado dos enfermos por São Camilo de Léllis e São João de Deus; a hospitalidade dos monges de São Bento e de São Basílio; a libertação dos cativos pelos Mercedários e Trinitários; o trabalho silencioso de tantas congregações femininas junto aos pobres e doentes. Em cada época, a Igreja traduziu o amor de Cristo em gestos concretos, unindo oração e ação, contemplação e serviço.

Mais do que um texto social, Dilexi te é um chamado à conversão do coração. Amar os pobres é amar Cristo. Encontrá-los é tocar as suas chagas. Servi-los é celebrar a Eucaristia prolongada na vida. O Papa Leão XIV convida cada cristão a fazer da misericórdia um estilo de vida e pede que as comunidades sejam “pobres com os pobres”: simples, solidárias e fraternas.

Texto: Dom Leomar Brustolin
Fonte: CNBB