XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

A PALAVRA

Há algo profundamente comovente no modo como Deus age na história: Ele não salva o mundo sozinho, mas CONVIDAESCOLHE e ENVIA.

Nas leituras deste décimo quarto domingo do Tempo Comum, esse chamado ecoa como um fio de esperança tecido no coração da humanidade. Deus não é um soberano distante; é um Pai que sussurra aos corações, confia missões e caminha ao lado daqueles que envia.

No Evangelho (Lc 10,1-12.17-20), Jesus envia setenta e dois discípulos como “operários da messe“. Não são apóstolos, nem os mais destacados, mas homens e mulheres comuns, talvez até hesitantes. E, no entanto, neles repousa uma missão grandiosa: preparar o caminho. Não com armas ou discursos inflamados, mas com a força simples da proximidade.

Eles não anunciam teorias abstratas, mas CURAM e LIBERTAM. Quantos hoje estão feridos pela solidão, pela injustiça, pela indiferença? A missão dos enviados de Jesus é tocar essas feridas com as mãos do Pai. Eles não prometem um reino de poder, mas um Reino onde os últimos serão primeiros (Mt 20,16). Sua vitória não se mede em triunfos humanos, mas em vidas restauradas, em corações que voltam a acreditar.

A Primeira Leitura (Is 66,10-14) traz uma cena tocante: Jerusalém está em ruínas, o povo, desanimado. E então surge um profeta sem nome, apenas uma voz que sussurra: Alegrai-vos com Jerusalém!. Como uma mãe que consola o filho, Deus promete renovação.

Quantas vezes nos sentimos como essa Jerusalém? Destruídos por fracassos, cansaços, traições. E, no entanto, Deus não desiste de nós. Envia profetas – às vezes um amigo, uma palavra na liturgia, um gesto inesperado – para nos lembrar que o amor d’Ele é mais forte que o nosso desespero.

Na Segunda Leitura (Gl 6,14-18), Paulo faz uma confissão impactante: Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele não fala de teorias, mas de marcas – as cicatrizes das perseguições, dos apedrejamentos, das noites em prisões.

Ser enviado não é um privilégio, é um martírio no sentido original: testemunho. E o testemunho mais radical não está nas palavras, mas no amor que se doa até o fim. Como Francisco de Assis, Madre Teresa, ou aquela avó que reza décadas pelo neto afastado. A cruz não é um adorno, é a medida do amor.

Deus ainda chama. Talvez não em visões espetaculares, mas no silêncio de um coração que se inquieta diante do sofrimento alheio. O enviado pode ser o jovem que renuncia a um emprego lucrativo para servir em uma favela; a mãe que educa os filhos na fé em um mundo secularizado; o padre que persevera mesmo quando ninguém o escuta.

A pergunta que fica é: ONDE DEUS ME ESTÁ ENVIANDO? Às vezes, a missão não está em lugares distantes, mas no irmão ao nosso lado, naquele colega de trabalho que ninguém escuta, naquele familiar que precisa de perdão.

Deus não chama os capacitados, capacita os chamados. E, no meio de nossas fragilidades, faz de nós sinais do Seu Reino. Porque o mundo não precisa de heróis perfeitos – precisa de testemunhas que, mesmo feridas, ainda acreditam no amor.

 Fonte: Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus

Leituras

Alegrai-vos com Jerusalém (Is 66,10), pois Deus nos chama a renascer na esperança: como mãe que acolhe o filho ferido, Ele transforma nossas lágrimas em torrente de paz, renovando em nós a coragem de crer e amar, mesmo quando o mundo parece desmoronar.

10 Alegrai-vos com Jerusalém e exultai com ela
todos vós que a amais;
tomai parte em seu júbilo,
todos vós que choráveis por ela,
11 para poderdes sugar e saciar-vos
ao seio de sua consolação,
e aleitar-vos e deliciar-vos
aos úberes de sua glória.
12 Isto diz o Senhor:
“Eis que farei correr para ela a paz como um rio
e a glória das nações como torrente transbordante.
Sereis amamentados, carregados ao colo
e acariciados sobre os joelhos.
13 Como uma mãe que acaricia o filho,
assim eu vos consolarei;
e sereis consolados em Jerusalém.
14c Tudo isso haveis de ver e o vosso coração exultará,
e o vosso vigor se renovará como a relva do campo.
A mão do Senhor se manifestará em favor de seus servos”.
Palavra do Senhor.

Aclamai o Senhor, terra inteira, cantai a glória do seu nome, glorificai-o com louvor! (Sl 65,1-2). Hoje, como ontem, Deus nos chama a transformar o caos em hino, o medo em festa, pois só quem atravessa o fogo do sofrimento sabe dançar na luz da ressurreição.

R. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira.

1Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, *
2 cantai salmos a seu nome glorioso, dai a Deus a mais sublime louvação! *
3a Dizei a Deus: “Como são grandes vossas obras! R.

4 Toda a terra vos adore com respeito *
e proclame o louvor de vosso nome!”
5 Vinde ver todas as obras do Senhor: *
seus prodígios estupendos entre os homens! R.

6 O mar ele mudou em terra firme, *
e passaram pelo rio a pé enxuto.
Exultemos de alegria no Senhor! *
7 Ele domina para sempre com poder! R.

16 Todos vós que a Deus temeis, vinde escutar: *
vou contar-vos todo bem que ele me fez!
20 Bendito seja o Senhor Deus que me escutou, †
não rejeitou minha oração e meu clamor,
nem afastou longe de mim o seu amor! R.

Quanto a mim, não aconteça gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14). Na fragilidade da cruz, Deus revela sua força: onde o mundo vê derrota, o coração que crê descobre a vitória do amor que transforma feridas em sinais de esperança.

Irmãos:
14 Quanto a mim, que eu me glorie somente
da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo.
Por ele, o mundo está crucificado para mim,
como eu estou crucificado para o mundo.
15 Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor;
o que conta é a criação nova.
16 E para todos os que seguirem esta norma,
como para o Israel de Deus,
paz e misericórdia.
17 Doravante, que ninguém me moleste,
pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus.
18 Irmãos, a graça do Senhor nosso, Jesus Cristo,
esteja convosco. Amém!
Palavra do Senhor.

A messe é grande, mas os operários são poucos (Lc 10,2). Hoje, Cristo nos chama a ser sinais de paz em um mundo fragmentado, confiando que, na simplicidade do serviço, o Reino de Deus se revela e transforma.

Naquele tempo,
1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos
e os enviou dois a dois, na sua frente,
a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.
2 E dizia-lhes: 
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Por isso, pedi ao dono da messe
que mande trabalhadores para a colheita.
3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias,
e não cumprimenteis ninguém pelo caminho!
5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro:
‘A paz esteja nesta casa!’
6 Se ali morar um amigo da paz,
a vossa paz repousará sobre ele;
se não, ela voltará para vós.
7 Permanecei naquela mesma casa,
comei e bebei do que tiverem,
porque o trabalhador merece o seu salário.
Não passeis de casa em casa.
8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos,
comei do que vos servirem,
9 curai os doentes que nela houver
e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.
10 Mas, quando entrardes numa cidade
e não fordes bem recebidos,
saindo pelas ruas, dizei:
11 ‘Até a poeira de vossa cidade,
que se apegou aos nossos pés,
sacudimos contra vós’.
No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!
12 Eu vos digo que, naquele dia,
Sodoma será tratada com menos rigor do que essa cidade”.
17 Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo:
“Senhor, até os demônios nos obedeceram
por causa do teu nome”.
18 Jesus respondeu:
“Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago.
19 Eu vos dei o poder
de pisar em cima de cobras e escorpiões
e sobre toda a força do inimigo.
E nada vos poderá fazer mal.
20 Contudo, não vos alegreis
porque os espíritos vos obedecem.
Antes, ficai alegres porque vossos nomes
estão escritos no céu”.
Palavra da Salvação.

Homilia

ENVIADOS PARA TRANSFORMAR O MUNDO!

Se a Igreja não é missionária, então não é a Igreja de Jesus. Esta é a nossa identidade mais profunda, o nosso selo divino, a essência da nossa vocação. Jesus enviou os Doze em missão, e depois também os Setenta e Dois, como recorda o Evangelho deste XIV Domingo do Tempo Comum (Ano C). Após sua morte e ressurreição, pouco antes de ascender ao céu, Ele nos enviou a todas as nações e povos para fazer discípulos e ensiná-los a observar tudo o que nos foi ordenado

Dividimos esta homilia em três partes:

  • O envio missionário como objetivo;
  • As instruções aos enviados;
  • A recompensa prometida.

O ENVIO MISSIONÁRIO COMO OBJETIVO

Jesus nos envia porque deseja transformar o mundo conforme o sonho de Deus: que ele se torne a Nova Jerusalém – cidade de paz, acolhida, plenitude e adoração. Evangelizar é despertar esse anseio profundo e traduzi-lo na oração que nos ensinou: “venha a nós o vosso Reino” (cf. Mt 6,10).

Acreditar que esse Reino virá, que ele já está germinando em nosso meio, não é tarefa fácil. No entanto, o próprio Jesus confirmou essa esperança ao afirmar: “A messe é grande”, mas também nos alertou: “os operários são poucos” (cf. Lc 10,2). Aqui está nosso chamado: SERMOS OPERÁRIOS DESSE REINO.

AS INSTRUÇÕES AOS ENVIADOS

Jesus nos dirige cinco recomendações essenciais para a missão:

      1. IR DOIS A DOIS: A missão cristã nunca é individualista. Ao menos dois – eis o sinal da comunhão. O testemunho é mais forte quando vivido em fraternidade. E esses dois vão com a certeza de que a colheita será abundante.
      2. IR COM CONFIANÇA: Os enviados devem saber que Jesus os acompanhará. Mesmo que os primeiros passos pareçam áridos, quando Ele chega, tudo se transforma. A presença do Senhor é sempre fecunda.
      3. IR VULNERÁVEIS: Os missionários de Jesus não portam armas, nem buscam prestígio político, poder econômico, superioridade intelectual ou imposições religiosas. São “como cordeiros no meio de lobos” (cf. Lc 10,3). A paz é sua maior arma. Representam o rosto da Nova Jerusalém. Se não forem acolhidos, sacudam a poeira dos pés – mas anunciem, com ousadia: “O Reino de Deus está próximo” (cf. Lc 10,11).
      4. IR COM AUTORIDADE ESPIRITUAL: Os missionários têm poder, não para dominar, mas para vencer o mal. Com a paz no rosto, acalmam as feras. Com a ternura, derretem a frieza dos corações. Com a fé, dissipam os medos. Curam feridas, restauram vidas. Sua marca essencial é a alegria confiante – um júbilo que nasce da certeza de estarem nas mãos de Deus.
      5. LEVAR A MARCA DA CRUZ: Os enviados de Cristo não trazem a marca da circuncisão, mas sim a insígnia da Cruz. Essa é sua tatuagem sagrada: sinal do amor extremo, da entrega total, da vitória de Cristo sobre a morte.

A RECOMPENSA

Jesus promete: “Seus nomes estão escritos no céu” (cf. Lc 10,20). Isto é, estão gravados no coração do Deus Abbá. Foram escolhidos para o prêmio final – a eternidade com Ele!

A crise de missão é também uma crise de identidade para toda a Igreja. Redescobrir a alegria de ser enviado é redescobrir o sentido mais profundo de nossa fé. Ter consciência de que somos portadores da Boa Nova é o maior dom que podemos receber. E esse dom – a missão – nos transforma… e transforma o mundo.

Seja este domingo um novo Pentecostes em nossos corações. Que cada fiel se sinta chamado, ungido e enviado – para que o mundo, enfim, creia.

COMO O PAI ME ENVIOU, TAMBÉM EU VOS ENVIO (Jo 20,21).

Texto: JOSÉ CRISTO REY GARCÍA PAREDES
Fonte: ECOLOGÍA DEL ESPÍRITU
Este artigo foi produzido com a assistência de ferramentas de inteligência artificial.