O texto do Evangelho de Jesus Cristo, escrito por São João, evangelista (Jo 20,19-23), narra o encontro de Jesus com os seus discípulos no dia de Pentecostes. Primeiramente Jesus deseja a paz, depois mostra as mãos, com as marcas dos cravos e o lado ferido pela lança, quando estava na cruz. Os discípulos, que viviam tomados pelo medo, se alegraram por verem o Senhor e por ele são enviados em missão, depois de receberem o Espírito Santo.
Para os discípulos, aquele não foi apenas mais um dia em suas vidas, mas o dia em que foram enviados para uma nova missão. Terminou o medo que os mantinha escondidos e renascem homens novos e destemidos, inebriados pela força do Espírito Santo e dispostos a anunciarem o Reino de Deus a todos os povos, rompendo a barreira das línguas e as fronteiras dos impérios que subjugavam as nações. Começa um processo de evangelização que muda a história da humanidade. O desafio destes homens é anunciar o Reino de Deus. E o fazem com amor e ardor de missionários, de profetas e de mártires. A vida já não lhes pertence, porque escolheram seguir o chamado e o caminho de Jesus Cristo.
Meus irmãos e minhas irmãs, precisamos também nós, na nossa vida de fé, de uma “sacudida”, para que possamos sair do nosso sono espiritual e despertar para uma nova realidade, onde o Evangelho possa ser acolhido com mais ardor, e o encontro com Jesus Cristo, através de uma vida de fé, continue dando sentido à nossa vida de cristãos. A força do Espírito Santo, que fez renascer os discípulos, é importante para a vida da Igreja. Ela também passa por uma constante renovação espiritual e missionária, para continuar anunciando um Evangelho vivo ao coração dos homens, mulheres e jovens do nosso tempo. Escreveu Rosmini, teólogo e filosofo do séc. XVIII: “A IGREJA NÃO CONSERVARÁ AS COISAS ANTIGAS, SE NÃO TIVER A CORAGEM DE ASSUMIR COISAS NOVAS, NOVOS DESAFIOS”.
As nossas comunidades não podem fechar-se em si mesmas, numa autossuficiência que as conduz à morte, mas devem estar abertas ao sopro do Espírito, para poderem manter vivo o ardor apostólico do testemunho e da missão que cabem a todos os batizados. Necessitam da força do Espírito Santo as nossas famílias, muitas vezes fragilizadas, pela falta de uma estrutura familiar cristã que acolha e respeite a vida.
O vento do Espírito deve perpassar o coração dos nossos jovens, porque eles são os herdeiros a quem cabe a missão de continuar anunciando ao mundo o Reino de Deus. As grandes mudanças na vida da Igreja foram feitas por jovens. E o fizeram depois de terem feito uma profunda experiência de vida espiritual e de comunhão com o Cristo na Cruz.
O vento do Espírito deve ser verdadeiramente invocado, não para que venha confirmar decisões já assumidas, mas para transformar, modificar e renovar a nossa Igreja, nossa comunidade, nossa família e nossa vida pessoal. A vitalidade deste sopro pode transformar uma realidade envelhecida e sem vida de um cristianismo fragilizado e adormecido, em um povo novo, onde o Evangelho possa ser acolhido no coração e de coração. É o Espírito, o fruto maduro da Páscoa de morte e ressurreição. Um Espírito que não tem face, e, ao mesmo tempo, tem todas as faces iluminadas pelo amor, por aquilo que é bom, bonito e verdadeiro. Sua luz brilha nos corações que queimam de paixão pela justiça, paz e fraternidade.
Texto: DOM JOSÉ GISLON
Fonte: CNBB